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O novo jogo da inovação

Uma mudança silenciosa, mas de enorme impacto, vem ocorrendo nos últimos anos no que se refere à inovação. Atualmente, sua base não é mais a atividade de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos ou serviços. “Este é o jogo de ontem; o de hoje é a inovação cultural”, alerta Victor Hwang, CEO, cofundador e diretor administrativo da T2 Venture Creation, companhia do Vale do Silício que constrói empresas iniciantes e desenha ecossistemas favoráveis à inovação. Hwang é o keynote speaker do primeiro dia da 14ª Conferência Anpei de Inovação, que será realizada nos dias 28 e 29 de abril no Expocenter Norte, em São Paulo.

Para Hwang, a cultura é a raiz de toda inovação. “As melhores empresas do Vale do Silício são inovadoras culturais, ainda que a maior parte do mundo não tenha notado que o jogo mudou tão profundamente para essa direção”, diz o executivo que, além de ter sua empresa sediada no Vale, estudou a formação do polo onde nasceram empresas como HP, Intel, Apple, Google e Facebook.

Essas empresas, segundo Hwang, teriam um ambiente similar ao de uma floresta tropical – assunto que foi objeto do livro The Rainforest: The Secret to Building the Next Silicon Valley, de sua coautoria. Em uma floresta tropical a grande diversidade de flora e fauna não pode ser explicada apenas pela presença de solo fértil e condições climáticas favoráveis, mas sim pela interação de todos os seus elementos que encorajam novas e inesperadas formas de vida. Da mesma forma, a inovação não se dá porque há capital, trabalho e tecnologia, mas sim pela forma com que as pessoas se relacionam.

Hwang detectou que nas empresas do Vale do Silício há normas invisíveis no dia a dia das pessoas que trabalham nelas, muito diferentes das de uma empresa tradicional que busca o controle total do processo com vistas a uma produtividade cada vez maior. Nas empresas do Vale do Silício a regra é quebrar regras e sonhar, abrir portas e ouvir, confiar no outro e em si, experimentar e interagir juntos, procurar merecimento, não vantagem, falhar e persistir, e pagar para ver.

São ecossistemas onde a cultura permite a conectividade, confiança, a diversidade, a colaboração, o serendipismo [neologismo para descobertas feitas ao acaso] e a troca de favores”, descreve. Sob este prisma, Hwang acredita que a simples existência de arranjos como clusters, incubadoras e parques tecnológicos, não estimula a inovação. “A maioria dessas instituições tendem a ser controlada de cima para baixo, em sistemas rígidos. As pessoas dentro desses sistemas têm suas ações restringidas, e o controle é o oposto da inovação”, aponta. “Essas instituições são como hardware sem software. O software necessário são as pessoas e seus padrões culturais de comportamento”, ilustra.

Para Hwang, construir ‘florestas tropicais’ significa permitir o nascimento de ideias imprevisíveis, não tentar conter as ‘ervas daninhas’. “Minha apresentação na Conferência Anpei vai focar em como desenhar ecossistemas onde as ervas daninhas inovadoras podem crescer e florescer”, diz.

O Brasil, na sua avaliação, já dispõe de alguns dos elementos de uma ‘floresta tropical’, mas outros ainda estão ausentes ou são incipientes, como a questão da confiança entre os parceiros, especialmente quando se trata de relações público-privadas. “O Brasil tem uma das culturas mais inovadoras do mundo quando se trata de música e arte.” Para ele, os brasileiros sentem receio de se tornar inovadores nos negócios. “Confiança é algo importante porque ajuda as pessoas a superar o medo. Sem confiança, a inovação morre, porque hoje inovação ocorre em equipes, e não em indivíduos.”

Serviço: a palestra de Victor Hwang será realizada no dia 28, das 14 às 15 horas, durante a 14ª Conferência Anpei. Veja a programação completa no site www.anpei.org.br/conferencia.

Sobre Victor Hwang: É graduado pela Universidade de Harvard em Estudos Governamentais e em Ciência da Computação, Arquitetura de Sistemas e Design de Sistemas Operacionais, e em direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Chicago Law. É diretor executivo da Global Innovation Summit – uma das maiores conferências mundiais sobre inovação. O evento anual é realizado no Vale do Silício e atrai representantes de quase 50 países.

Além de CEO da T2 Venture Creation, é cofundador da Liquidity Corporation, empresa de purificação de água, e diretor de estratégia da Blue Planet Strategies, que desenvolveu uma tecnologia para melhorar o rendimento de mineração do cobre. Possui dois livros publicados. No The Rainforest: The Secret to Building the Next Silicon Valley, Hwang aponta os caminhos para empresas, comunidades e países fomentarem a inovação em larga escala, de forma sistêmica. Já The Rainforest Blueprint: How to Design Your Own Silicon Valley é um guia prático sobre como catalisar ecossistemas de inovação.

Sobre a 14ª Conferência Anpei – O maior evento de inovação do País, reunirá em São Paulo cerca de 2 mil participantes, entre gestores públicos e privados de inovação, pesquisadores e autoridades. Serão sete palestrantes estrangeiros, dos Estados Unidos, Japão, Coreia, Austrália, Israel e Europa. Um deles é a vice-presidente de Inovação da Whirlpool Corporation, Nancy Tennant. Além de possibilitar a discussão das melhores práticas em inovação, incluindo a apresentação de dezenas de cases, o evento reunirá autoridades do sistema nacional de inovação para discutir os rumos das políticas públicas. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, é uma das autoridades confirmadas.